Eu me lembro muito bem. Estava acho que na 7ª série (na época era 3º ano do ginasial), corria o ano de 1973, a ditadura comia solta sob Médice, o “simpático” Presidente da República flamenguista, estudava no Colégio Aristeu Aguiar, no Alegre, onde havia ocorrido, nos contrafortes do Caparaó, um movimento guerrilheiro poucos anos antes e não sabíamos de nada disso.
A cidade vivia novos tempos. No início dos anos 70, ganhou duas faculdades – a de Filosofia e a de Agronomia, então Escola Superior de Agronomia do Espírito Santo. Ambas fruto da mobilização de lideranças locais em torno de um governador que foi o primeiro indicado pelo regime militar: Cristiano Dias Lopes. Por isso, seu nome foi dado ao Centro Acadêmico da Esaes, hoje um Centro Universitário vinculado à Universidade Federal do Espírito Santo, com mais de uma dezena de cursos de graduação, outros tantos de Mestrado e Doutorado.O curso de Agronomia foi reconhecido pelo Ministério da Educação, salvo engano, em 1975 e houve uma grande comemoração pelas ruas da cidade, patrocinada pelos estudantes, que tomavam banho na fonte da Praça da Bandeira e, mais que isso, buscavam em casa os professores e os atiravam com roupa e tudo dentro d´água. Eu vi tudo isso acontecer com esses olhos que a terra não há de comer tão cedo – a depender de mim.
Mais tarde, a Esaes foi federalizada e incorporada pela Ufes como Centro Agropecuário e foi ganhando corpo até ser o que é hoje, um grande centro de formação de profissionais espalhados pelo Brasil inteiro.
A Fafia, que continuou como autarquia municipal e hoje míngua, teve fundamental importância na formação de professores para as escolas não apenas do Sul capixaba, mas também para cidades mineiras ali pelas bandas do Caparaó. O polo universitário cresceu tanto que há uns dez anos começou uma discussão sobre a criação de uma universidade autônoma na cidade. Hoje, diante dos fatos recentes, já não me iludo com isso.
Quantos profissionais de destaque hoje no Brasil não deram seus primeiros passos na escola pelas mãos de professores formados pela Fafia ou não passaram pelas mãos de estudantes da Esaes e, hoje, Centro de Ciênicas Agrárias da Ufes, que eram aproveitados como mão de obra nas salas de aula quando havia tanta carência de mestres na cidade!?
Sim, eu me lembro bem. Corria o ano de 1973. Márcio, um aluno grandão da Esaes, dava aula de matemática no Aristeu Aguiar e estava em minha sala. De repente, o diretor da escola adentra a sala (vou preservar sua identidade, em respeito à família), não sei o que havia acontecido no dia, dá um “sabão” na turma e nos chama de idiotas. Sim, aquela turma de 40 alunos adolescentes éramos uns idiotas.
Márcio fechou a cara e não falou nada. Quando o diretor saiu, e nós, com cara de, sim, idiotas, o Márcio, na autonomia do comando da classe, dirigiu-se a nós serenamente: “Vocês sabem o que é idiota? Isso é uma ofensa muito grave”. Cheguei em casa, e encontrei um dicionário surrado e fui consultar (não sei quantos o fizeram). Jamais esqueci o peso dessa palavra, ressuscitada pelo atual Presidente da República, eleito pela democracia que ele não parece valorizar.
Os “idiotas úteis” ajudaram a instalar o regime de 64, lutaram pelas Diretas Já, choraram Tancredo, derrubaram Collor e derrubaram Dilma, elegeram o Presidente atual e podem… ah, deixa prá lá.
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