A chuva que cai sobre o Centro-Oeste brasileiro está deixando escorregadias as pistas de rolamento. E esta foi a causa de um acidente e de um milagre na tarde de domingo (10), em Brasília, envolvendo uma carreta carregada de granito laminado. A carga saiu de Cachoeiro de Itapemirim e destinava-se a Altamira (PA), no Pará.
A carreta tombou em um viaduto na BR-040 e ficou com a
cabine pendurada sobre a pista de baixo. O veículo transportava pedras de
granito em chapas e a carga caiu na via. O acidente ocorreu por volta das
14h50, em Santa Maria, próximo à Polícia Rodoviária Federal (PRF).
O Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF) prestou socorro
com equipe composta por 18 militares e quatro viaturas. O veículo envolvido,
uma carreta Fiat Iveco branca, era conduzido por Juciano Alves, 44 anos,
morador de Rio Novo do Sul - ele não se feriu. O segundo ocupante do carro,
cuja identidade não foi revelada, também não apresentou machucados.
Segundo os bombeiros, a carreta transitava por cima do viaduto, quando a carroceria deslizou e saiu da pista, arrastando a cabine do veículo para cima da mureta, onde ficou praticamente pendurada. A via ficou interditada até a retirada da carga de granito da pista. Os bombeiros atuaram na remoção das pedras.
"Deus agiu. Na hora, não passava nenhum carro ou pessoa
embaixo", disse a amigos o motorista, que postou um vídeo de
"gratidão" nas redes sociais.
MODELO INSANO
Comemora-se o milagre, mas não se pode fechar os olhos a uma
verdade gritante: esse é mais um daqueles acidentes que resultam do insano
modelo de circulação de cargas no País, adotado, principalmente, a partir dos
anos 60, quando grande parte da malha ferroviária brasileira foi desmantelada,
restando apenas centenas de estações País afora como registro histórico de que
por ali um dia passou um trem.
Interesses inconfessáveis estão por trás desse “erro
histórico”. O Brasil foi na contramão da história para atender a interesses da
indústria do petróleo e outras. Há quem feche os olhos para isso e enalteça a
grande malha rodoviária nacional, sem se aperceber de que os países mais
desenvolvidos do mundo têm malhas rodoviárias sim, mas grandes malhas
ferroviárias, tanto para o transporte de cargas quanto de passageiros.
O Brasil, por todos é sabido, tem extensão continental. A
burocracia legal travou desenvolvimento. Um país com quase 11 mil quilômetros
de costa atlântica não utilizar o transporte de cabotagem – chamado pequeno
curso – é um absurdo. E tanto quanto é a insanidade de um caminhão sair do Chuí
ao Oiapoque por estradas inseguras.
São 3.200km de distância entre Cachoeiro, de onde saiu o
caminhão de granito, nosso principal produto mineral, até Altamira, para onde,
segundo fontes, estava indo. Isso com um motorista rodando noite e dia.
Há um rastro de esperança no futuro com o novo marco
regulatório ferroviário, lançado inicialmente como uma Medida Provisória (a
versão democrática para os Decretos-Leis dos governos autoritários) pelo
Governo Federal, forçando o Senado a se mover e votar (e aprovar) o Projeto de
Lei 261/2018, de autoria do senador José Serra (SP), adotando a autorização
como autorização às concessões de ferrovias.
O ministro Tarcísio Gomes de Freitas, da Infraestrutura,
terminou o seu “Setembro Ferroviário” sinalizando com a possibilidade de US$ 80
bilhões em investimentos nos próximos anos em ferrovias privadas construídas
por conta e risco de investidores, mediante a modelagem das autorizações.
Dentre elas, três têm total interesse para o Espírito Santo:
uma no Sul do Estado, voltada para interligar o futuro Porto Central
(Presidente Kennedy) à malha nacional, e duas no Norte, formando um complexo
logístico ousado vinculado ao futuro Centro Portuário de São Mateus, da rolding
Petrocity.
Houvesse hoje essa ferrovia, batizada em seu lançamento como JK, em homenagem ao Presidente Kubischeck, ironicamente uma espécie de pai da indústria automotiva e, consequentemente, gerando a “necessidade de mais rodovias” no Brasil, e essa carga que era transportada pela carreta que tombou em Brasília não estaria sendo transportada sobre rodas, mas sobre trilhos.
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