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sábado, 1 de janeiro de 2022

Ferrovias: tudo o que existe, foi sonhado antes no “coração” de alguém

1.1.22
Ferrovias: tudo o que existe, foi sonhado antes no “coração” de alguém

Encontrei inspiração para essa reflexão ao iniciar a releitura de uma densa biografia de Steve Jobs, que provocou talvez a maior disrupção da humanidade desde que o homem é sapiens. Não tem Revolução Agrícola, não tem Revolução Industrial, nada que supere o que aconteceu no mundo a partir dos anos 80, elevando à categoria de “homo deus”, para usar uma classificação do historiador Yuval Harari, pelo menos dois personagens: Steve Jobs e Bill Gates.


Steve Jobs, filho adotado, entre sentimentos de abandono e de ser especial, começou sua disrupção ainda criança, quando chegou à escola alfabetizado pela mãe e não se adequou ao modelo de educação que lhe era oferecida, por isso passou a ser o que se pode chamar de aluno-problema. Sua notável inteligência fez a escola propor aos pais, ao final do período básico, após a aplicação de um exame cognitivo, que ele avançasse três anos na escola.


Os pais aceitaram a ideia, mas somente com o avanço de um ano, já o suficiente para que Steve aumentasse sua inadequação entre colegas mais velhos. Foi salvo por uma atenta professora, que percebeu sua “especialidade” e o desafiou com uma série de testes de matemática muito além daquilo que a turma fazia, e ante sua resistência inicial, “corrompeu-lhe” com a oferta de um pirulito gigante colorido e mais 5 dólares se acertasse a maioria das questões.


Steve lacrou, ganhou o prometido e passou a fazer esses testes da professora não mais para ganhar pirulitos e dólares, mas para satisfazê-la. E foi assim que a mestra se tornou uma de suas referências na vida.


Comentar isso é fundamental para introduzir o tema, haja vista que, morando na região onde estava instalada a Nasa e os aparelhos militares que gravitavam em torno dela, nas cercanias de Palo Alto, onde está a famosa Universidade de Stanford, na Califórnia, Steve juntou a fome com a vontade de comer. Como dizia Vinicius de Moraes, o operário faz a coisa e a coisa faz o operário. Infeliz de quem não reconhece isso. O homem faz o meio e é por ele feito.


Minhas leituras de Psicologia do Sucesso, a que dediquei, até agora, um terço mais recente de minha vida, permitem-me afirmar que tudo o que existe foi antes “projetado” na mente de um sonhador. Pessoas desconformes mudam o mundo, os acomodados não mudam nada. Fique atento da próxima vez que seu filho demonstrar rebeldia, principalmente na mais tenra idade. A mente dele está se desenvolvendo.


Um bando de malucos sonhadores está falando em construir alguns milhares de ferrovias no Brasil. Alguns desses malucos estão entre nós, talvez bem pertinho. O trem faz parte de nossa memória coletiva, mesmo de quem nunca andou em um. Eu cresci vendo o trem serpentear entre as montanhas do meu Alegre, no Caparaó. Da janela de nossa casa, sem água enganada e sem luz elétrica, na roça, minha mãe e meu irmão ficavam acompanhando a fumaça da locomotiva passando em direção a Celina e Guaçuí e advinhando seu percurso.  


Desenvolvi um estranho sentimento com partidas e chegadas em terminais rodoviários, acho que por causa do trem. Era na estação do Alegre que eu vivia a alegria da chegada e a tristeza da partida do único avô que conheci, o vô Levindo. Um dia um trem desconhecido o levou para nunca mais. E nunca mais pude vê-lo alisando palha de milho no paiol lá de casa para fazer seus “pitos” de fumo de rolo picados calmamente com um canivete bem amolado. Também não pude ir na garupa da égua nos passeios que ele fazia à rua. Meu padrastro, o pai que aprendi a amar, que me deu referência masculina, emprestava-lhe o animal com prazer. Como eles se davam bem!


O trem que Agepê cantou em “Lá vem o trem” (1975) e que me marcou nos versos “dizem que o trem vai chegar e levar para um mundo melhor quem merece”.



O Brasil abandonou o trem para adorar os automóveis, sabe lá Deus em que bases de negociatas. Agora, alguns sonhadores chegam com seus projetos bilionários, que causam incredulidade na maioria, mas é bom entender que nada existe sem ter sido antes sonhado. Como ouvi um dia de um economista, o dinheiro não desaparece, ele simplesmente troca de mãos. E sou obrigado a admitir que o dinheiro é capaz de produzir progresso social e econômico, transformando a geografia dos lugares definitivamente.


É curioso. No seu plano de governo nas eleições municipais de 2012, o atual prefeito Enivaldo dos Anjos incluiu o desejo de que a cidade de Barra de São Francisco tivesse uma ferrovia para escoar o granito que produz em grande quantidade e aumentar a segurança dos transportes, ao mesmo tempo em que diminuiria o custo dos fretes. Na época, o que se podia sonhar era com um ramal da Vitória-Minas, que dependeria do intrincado regime de concessão vigente no modelo ferroviário brasileiro.


Mal podia esperar que, menos de dez anos depois, ao conseguir, finalmente, voltar a ser prefeito de sua terra, após 30 anos, encontraria sua ideia ganhando corpo num contexto nacional de retomada de um projeto ferroviário, não mais com dinheiro público, mas com dinheiro privado. Repito a lição do meu amigo economista: o dinheiro só troca de mãos. E lembro lições aprendidas na Sociologia Econômica de que o capital procura ambientes onde possa se reproduzir. Cada vez mais.


De repente, Barra de São Francisco (notem a associação do São Francisco de seu rio com a região onde Steve Jobs criou e desenvolveu sua Apple, no vale do silício, empresa que vale mais do que todas as empresas brasileiras da Bolsa de Valores, incluídas nossas gigantes Vale e Petrobras) se vê no caminho não de uma, mas de duas ferrovias projetadas pela ambição de progresso de uma empresa criada por um Dom Quixote de la Mancha dos tempos modernos, que dedica sua vida a convencer autoridades, tecnocratas, empreendedores de sua viabilidade e, pouco a pouco, vai concebendo um império – por enquanto na prancheta, mas é assim que se começam todas as grandes transformações.


Não desprezem o futuro. Ele virá, queiramos ou não. Compete aos que têm a oportunidade de fazê-lo o dever de criar a ambiência para que ele venha o mais breve possível. Habilitem-se os que gostam da vida pública. Habilitem-se os que têm espírito empreendedor. Habilitem-se os que gostam de ser operários da coisa, lembrando que a coisa também faz o operário. Percebam a oportunidade como uma mula cotó e agarrem-na pela frente. Se não o fizerem, a única coisa que sairá de sua traseira será estrume – e depois não se queixem.


Eu gosto da ideia de participar de algo que vai ser muito maior do que eu próprio. De algo que vai causar grande impacto, que vai beneficiar grandemente gerações de pessoas que eu nem conheço e que talvez nem venha a conhecer. Agora, imaginem-se, os que estão dentro do espaço geográfico em que a coisa vai acontecer, o quanto podem fazer e se beneficiar.


(José Caldas da Costa, jornalista e geógrafo)


(Na primeira foto, do acervo do IHGA, a inauguração da estação ferroviária de Alegre-ES em 1919; na segunda foto, a mesma estação em 1940)

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terça-feira, 19 de outubro de 2021

Colatina-Linhares: a misteriosa quarta ferrovia no Espírito Santo com autorização pedida ao Governo Federal

19.10.21
Colatina-Linhares: a misteriosa quarta ferrovia no Espírito Santo com autorização pedida ao Governo Federal

José Caldas da Costa, Jornalista



Um dia após anunciar que chegara a 19 o número de solicitações para criação de trechos ferroviários pelo País por meio do instrumento de autorização, previsto pelo novo Marco Legal das Ferrovias, o Ministério da Infraestrutura surpreendeu e anunciou dois novos pedidos, um deles no Espírito Santo, de uma ferrovia de 100km de extensão ligando Colatina a Linhares, no Norte do Estado.


O órgão não deu maiores detalhes sobre quem é a empresa que solicitou a autorização, mas apuramos que foi a companhia Morro do Pilar Minerais S.A., uma empresa de Belo Horizonte (MG), criada em 2010, com capital social de R$ 279 milhões, uma sociedade anônima fechada com três sócios: Denise de Oliveira Albuquerque, Elias David Nigri e Gustavo Barbeito de Vasconcellos Lantimant Lacerda.


Em seu perfil no instagram, o Ministério informou que a linha férrea será voltada para o transporte de 25 milhões de toneladas por ano de carga de minério de ferro (granéis sólidos) e terá investimento de R$ 1 bilhão. A Morro do Pilar Minerais S.A. tem como sua principal atividade a extração de minério de ferro.


Há, entretanto, mais dúvidas do que certezas acerca desse trecho. A Morro do Pilar opera extração de minério em Conceição do Mato Dentro (MG), que está no escopo da linha prevista na autorização pedida com destino ao Porto Central, em Presidente Kennedy. E, ademais, como chegaria a Colatina o minério de ferro, haja vista que a linha existente é a Estrada de Ferro Vitória-Minas, que transporta seus próprios produtos e não abre espaço para embarcar produtos de terceiros? Pequenas mineradoras de Minas Gerais sempre se queixaram disso.


MERCADO


O  Jornal do Commercio apresentou em 2 de agosto de 2019 uma reportagem revelando, utilizando dados do Instituto Brasileiro de MIneração (Ibram), que apenas 2% da mineração no Brasil é composta por grandes empresas - companhias capazes de produzir acima de 1 milhão de toneladas por ano. A maior parte do setor é formada por pequenas e microempresas, respondendo por 87% das mineradoras, com produções abaixo de 100 mil toneladas anualmente.


Isso significa dizer, registrou a reportagem, que das 9.415 empresas que compõem o setor mineral nacional, apenas 154 são consideradas de grande porte, sendo o restante dividido entre 1.037 médias (produzindo entre 1 milhão de toneladas e 100 mil toneladas por ano), 2.809 pequenas e 5.415 microempresas. Além disso, existem atualmente 1.820 lavras garimpeiras, 13.250 licenciamentos e 830 complexos de águas minerais pelo País.



TRECHO NA BAHIA


Outro pedido é para construir e operar uma estrada de ferro e um terminal ferroviário, com foco do transporte de minério de ferro. O projeto tem 120 km, entre Abaíra/BA e Brumado/BA, e deve se conectar à Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol). Com isso, o total de pedidos de autorização ferroviária chega a 21, com previsão de R$ 83,7 bilhões de investimentos em 5.640,5 km trilhos, que cruzam 13 unidades da Federação.


Dos 21 pedidos de autorização (mapa), o Espírito Santo conta com quatro: um no Sul e outros três no Norte do Estado. No Sul, foi solicitada autorização para a construção e uma ferrovia ligando o Porto Central, em Presidente Kennedy, a Conceição do Mato Dentro e Sete Lagoas-MG.


Além do trecho Colatina-Linhares, outros dois já haviam sido solicitados: a Estrada de Ferro Minas-Espírito Santo (EFMES), com 420km, ligando Ipatinga (MG) a São Mateus (ES); e a Ferrovia Juscelino Kubstischek, com 1.108km, ligando Barra de São Francisco (ES) a Brasília (DF), onde se conectará com a Ferrovia Norte-Sul, que leva aos portos de Itaqui (MA) e Santos (SP). Esses dois pedidos foram feitos pela  Petrocity Ferrovias, subsidiária do grupo Petrocity, que planeja também um porto em São Mateus.


CONTRATOS


Fontes de Brasília dão conta de que os primeiros contratos de autorização para construção de ferrovias nos moldes do novo Marco Ferroviário Brasileiro serão assinados entre o dia 25 de outubro e o dia 10 de novembro – agenda está sendo fechada pelo ministro Tarcísio Gomes de Freitas (foto). Deverão estar nesse primeiro lote as primeiras ferrovias com solicitações feitas, dentre elas a EFMES.


A partir da assinatura dos contratos, começa a correr o prazo de 10 anos para execução do projeto. As últimas levas de requerimentos dentro do Programa Pro-Trilhos para novas ferrovias apresentada ao Ministério da Infraestrutura (MInfra) revelam que haverá disputa entre empresas por novos trechos a serem desenvolvidos.


Três novos requerimentos foram apresentados pela Rumo, que entrou na disputa pelo direito de desenvolver trecho de 557 quilômetros de extensão entre Lucas do Rio Verde e Água Boa (MT), além do segmento de 235 quilômetros entre os municípios mineiros de Santa Vitória, no distrito de Chaveslândia, e Uberlândia, ambos já solicitados pela VLI. Os investimentos nesses dois trechos são estimados, respectivamente, em R$ 6,4 bilhões e R$ 2,7 bilhões.


Outro interesse da Rumo foi complementar a infraestrutura da MRS Logística no Porto de Santos (SP), criando uma segunda ferradura ao largo da existente, com previsão de R$ 1 bilhão de investimento e 37,5 quilômetros de extensão. O novo segmento ficaria entre o pátio de Perequê, em Cubatão (SP), e as margens esquerda e direita do Porto de Santos, conectando, respectivamente, os pátios de Conceiçãozinha e Valongo.


ESTREIA NO SETOR


Se até aqui as novas autorizações eram apresentadas por empresas com experiência no transporte ferroviário, as últimas solicitações trouxeram novos atores ao jogo, segundo o Minfra.


Uma empresa líder mundial no ramo de celulose – a Braell - quer construir e operar duas ferrovias próprias: trecho de 4 quilômetros dentro do município de Lençóis Paulistas (SP), com investimento de R$ 50 milhões, a fim de transportar anualmente carga de 1 milhão de tonelada de tora de eucalipto de sua fábrica no município ao Porto de Santos; outro segmento, de 19,5 quilômetros de extensão, ligaria o mesmo município à malha ferroviária de Pederneiras (SP), sentido Porto de Santos.


Nesse caso, o objetivo é transportar carga geral de celulose calculada em 1,7 milhão de toneladas/ano. Para tanto, a empresa se propõe a investir mais R$ 200 milhões.


MARCO LEGAL


Segundo o Ministério, todas as 21 solicitações apresentadas até o momento ao Governo Federal seguem em análise pela equipe da Secretaria Nacional de Transportes Terrestres (SNTT), sendo que 14 já passam por avaliação da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) quanto à viabilidade locacional. Estas são as que deverão compor a primeira agenda de assinaturas de contratos nas duas próximas semanas.


O Marco Legal das Ferrovias, criado pela Medida Provisória 1065/2021, também avança no Congresso Nacional após a aprovação pelo Senado Federal do PLS 261/18 no Senado Federal. O texto agora será analisado pela Câmara dos Deputados. Se não houver mudanças, segue para sanção presidencial, exceto os dois deste dia 19.


Uma informação relevante que circula em Brasília é que, apesar da insistência de algumas lideranças ligadas à Federação das Indústrias do Espírito Santo, o investimento de R$ 4 bilhões no contorno da Serra do Tigre em Minas Gerais, no regime de compensação pela renovação de concessões à VLI, não está nos planos do Governo Federal. A própria VLI teria outras prioridades.


Confira a relação de todos os requerimentos apresentados até aqui:


Petrocity: São Mateus/ES – Ipatinga/MG: 420 km de extensão

VLI: Lucas do Rio Verde/MT – Água Boa/MT: 557 km de extensão

VLI: Uberlândia/MG – Chaveslândia/MG: 235 km de extensão

VLI: Porto Franco – Balsas/MA: 245 km de extensão

VLI: Cubatão/SP-Santos/SP: 8 km de extensão

Ferroeste: Maracaju/MS – Dourados/MS: 76 km de extensão

Ferroeste: Guarapuava/PR - Paranaguá/PR: 405 km de extensão

Ferroeste: Cascavel/PR – Foz do Iguaçu/PR: 166 km de extensão

Ferroeste: Cascavel/PR a Chapecó /SC: 286 km de extensão

Grão Pará: Alcântara/MA – Açailândia/MA: 520 km de extensão

Planalto Piauí Participações: Suape/PE – Curral Novo/PI: 717 km de extensão

Fazenda Campo Grande: Santo André/SP: 7 km de extensão

Macro Desenvolvimento Ltda.: Presidente Kennedy/ES – Conceição do Mato Dentro/MG –Sete Lagoas/MG: 610 km de extensão

Petrocity: Barra de São Francisco/ES – Brasília (DF): 1.108 km de extensão

Rumo: Santos – Cubatão – Guarujá/SP – 37 km

Rumo: Água Boa – Lucas do Rio Verde/MT: 557 km de extensão

Rumo: Uberlândia/MG – Chaveslândia/MG: 235 km de extensão

Bracell: Lençóis Paulistas (SP): 4 km de extensão

Bracell: Lençóis Paulistas-Pederneiras (SP): 19,5 km de extensão

Morro do Pilar Minerais S.A: Colatina – Linhares (ES): 100 km de extensão

Brazil Iron Mineração Ltda: Abaíra – Brumado/BA – Fiol – FCA: 120 km de extensão


(Com informações do Ministério da Infraestrutura)


 

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segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Ferrovias: o entusiasmo que sobra em Minas está faltando no Espírito Santo

18.10.21
Ferrovias: o entusiasmo que sobra em Minas está faltando no Espírito Santo

 

Um dia li que a especiaria preferida dos capixabas, o caranguejo, serve também de ilustração para o comportamento típico de quem tem algum poder de mando no Espírito Santo: é como balaio de caranguejo, não precisa nem fechar; é só o primeiro colocar a puã na beirada que os outros puxam para baixo. E, do presidente da Academia Espirito-Santense de Letras, li: o Espírito Santo é uma mãe estranha, que mata suas melhores crias.

A semana começou animada no Vale do Aço. Os mineiros, a quem o folclore atribui um apreço todo especial por trem, estão entusiasmados com os dois projetos de ferrovia apresentados pelo grupo Petrocity ao Ministério da Infraestrutura – a Estrada de Ferro Minas-Espírito Santo (EFMES), inicialmente de Ipatinga a São Mateus, e a Ferrovia Juscelino Kubitscheck, que interligará a EFMES com a Ferrovia Norte-Sul, em Unaí (GO), passando por Teófilo Otoni e Norte de Minas, garantindo um corredor de exportação de grãos do cerrado.

A animação é tanta que a primeira ferrovia poderá sofrer um acréscimo de aproximadamente 7 km para permitir a instalação de uma Unidade de Transbordo e Armazenagem de Cargas (UTAC) em Coronel Fabriciano, cidade “colada” a Ipatinga, formando as duas uma população maior do que a de Vitória (somente a capital).

Tanto a EFMES quanto a FJK estão projetadas e foram apresentadas ao Governo Federal, com pedidos de autorização, dentro do marco legal estabelecido pela Medida Provisória 1065/2021, que, além de permitir um despertar do setor, também levou o Senado a aprovar o PLS 261/2018, parado há três anos na casa, e agora enviado à Câmara para votação. Enquanto a MP é provisória e visa acelerar o processo, é a lei das Casas legislativas que vai consolidar o novo Marco Legal do Transporte Ferroviário no Brasil.

O ministro Tarcisio Gomes de Freitas publicou no final de semana em seu twitter que infraestrutura é projeto de Estado, uma declaração muito feliz, que coloca as coisas dentro de seus devidos lugares. Todos os governos devem estar comprometidos com isso.

Agora, curioso é que o Espírito Santo, o maior beneficiário do maior complexo logístico projetado para o Brasil, integrando modais rodoviário, ferroviário e marítimo, permanece em incômodo silêncio diante de tudo isso.

No mês de março deste ano, um movimento liderado pelo prefeito de Barra de São Francisco lançou o Rota 381, que levou às autoridades estaduais e federais um documento assinado por lideranças municipais dos dois Estados, pedindo apoio e mobilização não apenas para a ferrovia (não havia ainda a ideia da JK), mas também para o Centro Portuário de São Mateus e para duplicação da BR 381, entre São Mateus e Governador Valadares, último trecho que está faltando.

“Barra de São Francisco será o maior hub logístico do Brasil”, costuma dizer o presidente da Petrocity, José Roberto Barbosa da Silva, sobre o encontro das duas ferrovias na cidade, que também é cortada pela BR 381 e terá um porto seco alfandegado.

Agora, uma perspectiva curiosa: com o projeto da FJK, tanto o Vale do Aço mineiro quanto o Norte-Nordeste capixaba estarão conectados com a espinha dorsal do transporte ferroviário nacional (Ferrovia Norte-Sul), portanto, ligados tanto a Santos(SP) quanto a Itaqui (MA). O advento do porto em São Mateus vai fazer essa completa integração, redefinindo a logística brasileira, com margem de ir ainda além.

A seguir, fotos dos eventos promovidos pelos mineiros nesta segunda-feira no Vale do Aço, envolvendo prefeitos, vereadores, deputados estaduais e federais, líderes empresariais da indústria e do comércio, além de representantes de organizações sindicais e da Federação das Indústrias de Minas Gerais. 

Flaviano Mirco Gaggiato, presidente da FIEMG Vale do Aço, promoveu um almoço seguido de reunião com expressiva representatividade, com a participação de representantes da Cenibra, Usiminas e Aperam, grandes indústrias da região; o prefeito de Ipatinga, Gustavo Nunes (PSL), foi tomar café da manhã com o dirigente da Petrocity no hotel, onde ele recebeu também uma moção honrosa da Câmara Municipal; o prefeito de Coronel Fabriciano, Marcos Vinicios da Silva Bizarro (PSDB), mobilizou lideranças para brigar pela UTAC em seu município;  os deputados Ercílio Coelho (federal), Rosângela Reis e Celinho do Sintrocel (estaduais), também marcaram presença, e Tito Torres mandou seu assessor Clésio Gonçalves; e a imprensa se mobilizou...

Um entusiasmo contagiante. 

Acorda, Espírito Santo. Onde estão nossos deputados federais? Nossos senadores? Nossos deputados estaduais?... PEGUEM A VISÃO.

 José Caldas da Costa, jornalista e geógrafo














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terça-feira, 12 de outubro de 2021

Milagre: carreta despeja carga de granito em viaduto e ninguém se fere. Tudo por um modelo insano de transportes

12.10.21
Milagre: carreta despeja carga de granito em viaduto e ninguém se fere. Tudo por um modelo insano de transportes

 


A chuva que cai sobre o Centro-Oeste brasileiro está deixando escorregadias as pistas de rolamento. E esta foi a causa de um acidente e de um milagre na tarde de domingo (10), em Brasília, envolvendo uma carreta carregada de granito laminado. A carga saiu de Cachoeiro de Itapemirim e destinava-se a Altamira (PA), no Pará.

A carreta tombou em um viaduto na BR-040 e ficou com a cabine pendurada sobre a pista de baixo. O veículo transportava pedras de granito em chapas e a carga caiu na via. O acidente ocorreu por volta das 14h50, em Santa Maria, próximo à Polícia Rodoviária Federal (PRF).

O Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF) prestou socorro com equipe composta por 18 militares e quatro viaturas. O veículo envolvido, uma carreta Fiat Iveco branca, era conduzido por Juciano Alves, 44 anos, morador de Rio Novo do Sul - ele não se feriu. O segundo ocupante do carro, cuja identidade não foi revelada, também não apresentou machucados.


Segundo os bombeiros, a carreta transitava por cima do viaduto, quando a carroceria deslizou e saiu da pista, arrastando a cabine do veículo para cima da mureta, onde ficou praticamente pendurada. A via ficou interditada até a retirada da carga de granito da pista. Os bombeiros atuaram na remoção das pedras.

"Deus agiu. Na hora, não passava nenhum carro ou pessoa embaixo", disse a amigos o motorista, que postou um vídeo de "gratidão" nas redes sociais.

MODELO INSANO

Comemora-se o milagre, mas não se pode fechar os olhos a uma verdade gritante: esse é mais um daqueles acidentes que resultam do insano modelo de circulação de cargas no País, adotado, principalmente, a partir dos anos 60, quando grande parte da malha ferroviária brasileira foi desmantelada, restando apenas centenas de estações País afora como registro histórico de que por ali um dia passou um trem.

Interesses inconfessáveis estão por trás desse “erro histórico”. O Brasil foi na contramão da história para atender a interesses da indústria do petróleo e outras. Há quem feche os olhos para isso e enalteça a grande malha rodoviária nacional, sem se aperceber de que os países mais desenvolvidos do mundo têm malhas rodoviárias sim, mas grandes malhas ferroviárias, tanto para o transporte de cargas quanto de passageiros.

O Brasil, por todos é sabido, tem extensão continental. A burocracia legal travou desenvolvimento. Um país com quase 11 mil quilômetros de costa atlântica não utilizar o transporte de cabotagem – chamado pequeno curso – é um absurdo. E tanto quanto é a insanidade de um caminhão sair do Chuí ao Oiapoque por estradas inseguras.

São 3.200km de distância entre Cachoeiro, de onde saiu o caminhão de granito, nosso principal produto mineral, até Altamira, para onde, segundo fontes, estava indo. Isso com um motorista rodando noite e dia.

Há um rastro de esperança no futuro com o novo marco regulatório ferroviário, lançado inicialmente como uma Medida Provisória (a versão democrática para os Decretos-Leis dos governos autoritários) pelo Governo Federal, forçando o Senado a se mover e votar (e aprovar) o Projeto de Lei 261/2018, de autoria do senador José Serra (SP), adotando a autorização como autorização às concessões de ferrovias.

O ministro Tarcísio Gomes de Freitas, da Infraestrutura, terminou o seu “Setembro Ferroviário” sinalizando com a possibilidade de US$ 80 bilhões em investimentos nos próximos anos em ferrovias privadas construídas por conta e risco de investidores, mediante a modelagem das autorizações.

Dentre elas, três têm total interesse para o Espírito Santo: uma no Sul do Estado, voltada para interligar o futuro Porto Central (Presidente Kennedy) à malha nacional, e duas no Norte, formando um complexo logístico ousado vinculado ao futuro Centro Portuário de São Mateus, da rolding Petrocity.



Essas duas ferrovias se interligarão em Barra de São Francisco: uma sairá de Ipatinga, no Vale do Aço, e a outra sairá da interseção com a Ferrovia Norte-Sul, em Anápolis (GO), e passará pelo Norte de Minas, descendo por Teófoli Otoni, permitindo o escoamento da produção do agronegócio do Cerrado e também de minério na região de Montes Claros. E chegarão, juntas, em São Mateus para suas cargas ganharem o mar, por cabotagem ou por navegação de longo curso para o mundo.

Houvesse hoje essa ferrovia, batizada em seu lançamento como JK, em homenagem ao Presidente Kubischeck, ironicamente uma espécie de pai da indústria automotiva e, consequentemente, gerando a “necessidade de mais rodovias” no Brasil, e essa carga que era transportada pela carreta que tombou em Brasília não estaria sendo transportada sobre rodas, mas sobre trilhos.

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