O Patim: Marco Ferroviário
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terça-feira, 19 de outubro de 2021

Colatina-Linhares: a misteriosa quarta ferrovia no Espírito Santo com autorização pedida ao Governo Federal

19.10.21
Colatina-Linhares: a misteriosa quarta ferrovia no Espírito Santo com autorização pedida ao Governo Federal

José Caldas da Costa, Jornalista



Um dia após anunciar que chegara a 19 o número de solicitações para criação de trechos ferroviários pelo País por meio do instrumento de autorização, previsto pelo novo Marco Legal das Ferrovias, o Ministério da Infraestrutura surpreendeu e anunciou dois novos pedidos, um deles no Espírito Santo, de uma ferrovia de 100km de extensão ligando Colatina a Linhares, no Norte do Estado.


O órgão não deu maiores detalhes sobre quem é a empresa que solicitou a autorização, mas apuramos que foi a companhia Morro do Pilar Minerais S.A., uma empresa de Belo Horizonte (MG), criada em 2010, com capital social de R$ 279 milhões, uma sociedade anônima fechada com três sócios: Denise de Oliveira Albuquerque, Elias David Nigri e Gustavo Barbeito de Vasconcellos Lantimant Lacerda.


Em seu perfil no instagram, o Ministério informou que a linha férrea será voltada para o transporte de 25 milhões de toneladas por ano de carga de minério de ferro (granéis sólidos) e terá investimento de R$ 1 bilhão. A Morro do Pilar Minerais S.A. tem como sua principal atividade a extração de minério de ferro.


Há, entretanto, mais dúvidas do que certezas acerca desse trecho. A Morro do Pilar opera extração de minério em Conceição do Mato Dentro (MG), que está no escopo da linha prevista na autorização pedida com destino ao Porto Central, em Presidente Kennedy. E, ademais, como chegaria a Colatina o minério de ferro, haja vista que a linha existente é a Estrada de Ferro Vitória-Minas, que transporta seus próprios produtos e não abre espaço para embarcar produtos de terceiros? Pequenas mineradoras de Minas Gerais sempre se queixaram disso.


MERCADO


O  Jornal do Commercio apresentou em 2 de agosto de 2019 uma reportagem revelando, utilizando dados do Instituto Brasileiro de MIneração (Ibram), que apenas 2% da mineração no Brasil é composta por grandes empresas - companhias capazes de produzir acima de 1 milhão de toneladas por ano. A maior parte do setor é formada por pequenas e microempresas, respondendo por 87% das mineradoras, com produções abaixo de 100 mil toneladas anualmente.


Isso significa dizer, registrou a reportagem, que das 9.415 empresas que compõem o setor mineral nacional, apenas 154 são consideradas de grande porte, sendo o restante dividido entre 1.037 médias (produzindo entre 1 milhão de toneladas e 100 mil toneladas por ano), 2.809 pequenas e 5.415 microempresas. Além disso, existem atualmente 1.820 lavras garimpeiras, 13.250 licenciamentos e 830 complexos de águas minerais pelo País.



TRECHO NA BAHIA


Outro pedido é para construir e operar uma estrada de ferro e um terminal ferroviário, com foco do transporte de minério de ferro. O projeto tem 120 km, entre Abaíra/BA e Brumado/BA, e deve se conectar à Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol). Com isso, o total de pedidos de autorização ferroviária chega a 21, com previsão de R$ 83,7 bilhões de investimentos em 5.640,5 km trilhos, que cruzam 13 unidades da Federação.


Dos 21 pedidos de autorização (mapa), o Espírito Santo conta com quatro: um no Sul e outros três no Norte do Estado. No Sul, foi solicitada autorização para a construção e uma ferrovia ligando o Porto Central, em Presidente Kennedy, a Conceição do Mato Dentro e Sete Lagoas-MG.


Além do trecho Colatina-Linhares, outros dois já haviam sido solicitados: a Estrada de Ferro Minas-Espírito Santo (EFMES), com 420km, ligando Ipatinga (MG) a São Mateus (ES); e a Ferrovia Juscelino Kubstischek, com 1.108km, ligando Barra de São Francisco (ES) a Brasília (DF), onde se conectará com a Ferrovia Norte-Sul, que leva aos portos de Itaqui (MA) e Santos (SP). Esses dois pedidos foram feitos pela  Petrocity Ferrovias, subsidiária do grupo Petrocity, que planeja também um porto em São Mateus.


CONTRATOS


Fontes de Brasília dão conta de que os primeiros contratos de autorização para construção de ferrovias nos moldes do novo Marco Ferroviário Brasileiro serão assinados entre o dia 25 de outubro e o dia 10 de novembro – agenda está sendo fechada pelo ministro Tarcísio Gomes de Freitas (foto). Deverão estar nesse primeiro lote as primeiras ferrovias com solicitações feitas, dentre elas a EFMES.


A partir da assinatura dos contratos, começa a correr o prazo de 10 anos para execução do projeto. As últimas levas de requerimentos dentro do Programa Pro-Trilhos para novas ferrovias apresentada ao Ministério da Infraestrutura (MInfra) revelam que haverá disputa entre empresas por novos trechos a serem desenvolvidos.


Três novos requerimentos foram apresentados pela Rumo, que entrou na disputa pelo direito de desenvolver trecho de 557 quilômetros de extensão entre Lucas do Rio Verde e Água Boa (MT), além do segmento de 235 quilômetros entre os municípios mineiros de Santa Vitória, no distrito de Chaveslândia, e Uberlândia, ambos já solicitados pela VLI. Os investimentos nesses dois trechos são estimados, respectivamente, em R$ 6,4 bilhões e R$ 2,7 bilhões.


Outro interesse da Rumo foi complementar a infraestrutura da MRS Logística no Porto de Santos (SP), criando uma segunda ferradura ao largo da existente, com previsão de R$ 1 bilhão de investimento e 37,5 quilômetros de extensão. O novo segmento ficaria entre o pátio de Perequê, em Cubatão (SP), e as margens esquerda e direita do Porto de Santos, conectando, respectivamente, os pátios de Conceiçãozinha e Valongo.


ESTREIA NO SETOR


Se até aqui as novas autorizações eram apresentadas por empresas com experiência no transporte ferroviário, as últimas solicitações trouxeram novos atores ao jogo, segundo o Minfra.


Uma empresa líder mundial no ramo de celulose – a Braell - quer construir e operar duas ferrovias próprias: trecho de 4 quilômetros dentro do município de Lençóis Paulistas (SP), com investimento de R$ 50 milhões, a fim de transportar anualmente carga de 1 milhão de tonelada de tora de eucalipto de sua fábrica no município ao Porto de Santos; outro segmento, de 19,5 quilômetros de extensão, ligaria o mesmo município à malha ferroviária de Pederneiras (SP), sentido Porto de Santos.


Nesse caso, o objetivo é transportar carga geral de celulose calculada em 1,7 milhão de toneladas/ano. Para tanto, a empresa se propõe a investir mais R$ 200 milhões.


MARCO LEGAL


Segundo o Ministério, todas as 21 solicitações apresentadas até o momento ao Governo Federal seguem em análise pela equipe da Secretaria Nacional de Transportes Terrestres (SNTT), sendo que 14 já passam por avaliação da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) quanto à viabilidade locacional. Estas são as que deverão compor a primeira agenda de assinaturas de contratos nas duas próximas semanas.


O Marco Legal das Ferrovias, criado pela Medida Provisória 1065/2021, também avança no Congresso Nacional após a aprovação pelo Senado Federal do PLS 261/18 no Senado Federal. O texto agora será analisado pela Câmara dos Deputados. Se não houver mudanças, segue para sanção presidencial, exceto os dois deste dia 19.


Uma informação relevante que circula em Brasília é que, apesar da insistência de algumas lideranças ligadas à Federação das Indústrias do Espírito Santo, o investimento de R$ 4 bilhões no contorno da Serra do Tigre em Minas Gerais, no regime de compensação pela renovação de concessões à VLI, não está nos planos do Governo Federal. A própria VLI teria outras prioridades.


Confira a relação de todos os requerimentos apresentados até aqui:


Petrocity: São Mateus/ES – Ipatinga/MG: 420 km de extensão

VLI: Lucas do Rio Verde/MT – Água Boa/MT: 557 km de extensão

VLI: Uberlândia/MG – Chaveslândia/MG: 235 km de extensão

VLI: Porto Franco – Balsas/MA: 245 km de extensão

VLI: Cubatão/SP-Santos/SP: 8 km de extensão

Ferroeste: Maracaju/MS – Dourados/MS: 76 km de extensão

Ferroeste: Guarapuava/PR - Paranaguá/PR: 405 km de extensão

Ferroeste: Cascavel/PR – Foz do Iguaçu/PR: 166 km de extensão

Ferroeste: Cascavel/PR a Chapecó /SC: 286 km de extensão

Grão Pará: Alcântara/MA – Açailândia/MA: 520 km de extensão

Planalto Piauí Participações: Suape/PE – Curral Novo/PI: 717 km de extensão

Fazenda Campo Grande: Santo André/SP: 7 km de extensão

Macro Desenvolvimento Ltda.: Presidente Kennedy/ES – Conceição do Mato Dentro/MG –Sete Lagoas/MG: 610 km de extensão

Petrocity: Barra de São Francisco/ES – Brasília (DF): 1.108 km de extensão

Rumo: Santos – Cubatão – Guarujá/SP – 37 km

Rumo: Água Boa – Lucas do Rio Verde/MT: 557 km de extensão

Rumo: Uberlândia/MG – Chaveslândia/MG: 235 km de extensão

Bracell: Lençóis Paulistas (SP): 4 km de extensão

Bracell: Lençóis Paulistas-Pederneiras (SP): 19,5 km de extensão

Morro do Pilar Minerais S.A: Colatina – Linhares (ES): 100 km de extensão

Brazil Iron Mineração Ltda: Abaíra – Brumado/BA – Fiol – FCA: 120 km de extensão


(Com informações do Ministério da Infraestrutura)


 

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segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Ferrovias: o entusiasmo que sobra em Minas está faltando no Espírito Santo

18.10.21
Ferrovias: o entusiasmo que sobra em Minas está faltando no Espírito Santo

 

Um dia li que a especiaria preferida dos capixabas, o caranguejo, serve também de ilustração para o comportamento típico de quem tem algum poder de mando no Espírito Santo: é como balaio de caranguejo, não precisa nem fechar; é só o primeiro colocar a puã na beirada que os outros puxam para baixo. E, do presidente da Academia Espirito-Santense de Letras, li: o Espírito Santo é uma mãe estranha, que mata suas melhores crias.

A semana começou animada no Vale do Aço. Os mineiros, a quem o folclore atribui um apreço todo especial por trem, estão entusiasmados com os dois projetos de ferrovia apresentados pelo grupo Petrocity ao Ministério da Infraestrutura – a Estrada de Ferro Minas-Espírito Santo (EFMES), inicialmente de Ipatinga a São Mateus, e a Ferrovia Juscelino Kubitscheck, que interligará a EFMES com a Ferrovia Norte-Sul, em Unaí (GO), passando por Teófilo Otoni e Norte de Minas, garantindo um corredor de exportação de grãos do cerrado.

A animação é tanta que a primeira ferrovia poderá sofrer um acréscimo de aproximadamente 7 km para permitir a instalação de uma Unidade de Transbordo e Armazenagem de Cargas (UTAC) em Coronel Fabriciano, cidade “colada” a Ipatinga, formando as duas uma população maior do que a de Vitória (somente a capital).

Tanto a EFMES quanto a FJK estão projetadas e foram apresentadas ao Governo Federal, com pedidos de autorização, dentro do marco legal estabelecido pela Medida Provisória 1065/2021, que, além de permitir um despertar do setor, também levou o Senado a aprovar o PLS 261/2018, parado há três anos na casa, e agora enviado à Câmara para votação. Enquanto a MP é provisória e visa acelerar o processo, é a lei das Casas legislativas que vai consolidar o novo Marco Legal do Transporte Ferroviário no Brasil.

O ministro Tarcisio Gomes de Freitas publicou no final de semana em seu twitter que infraestrutura é projeto de Estado, uma declaração muito feliz, que coloca as coisas dentro de seus devidos lugares. Todos os governos devem estar comprometidos com isso.

Agora, curioso é que o Espírito Santo, o maior beneficiário do maior complexo logístico projetado para o Brasil, integrando modais rodoviário, ferroviário e marítimo, permanece em incômodo silêncio diante de tudo isso.

No mês de março deste ano, um movimento liderado pelo prefeito de Barra de São Francisco lançou o Rota 381, que levou às autoridades estaduais e federais um documento assinado por lideranças municipais dos dois Estados, pedindo apoio e mobilização não apenas para a ferrovia (não havia ainda a ideia da JK), mas também para o Centro Portuário de São Mateus e para duplicação da BR 381, entre São Mateus e Governador Valadares, último trecho que está faltando.

“Barra de São Francisco será o maior hub logístico do Brasil”, costuma dizer o presidente da Petrocity, José Roberto Barbosa da Silva, sobre o encontro das duas ferrovias na cidade, que também é cortada pela BR 381 e terá um porto seco alfandegado.

Agora, uma perspectiva curiosa: com o projeto da FJK, tanto o Vale do Aço mineiro quanto o Norte-Nordeste capixaba estarão conectados com a espinha dorsal do transporte ferroviário nacional (Ferrovia Norte-Sul), portanto, ligados tanto a Santos(SP) quanto a Itaqui (MA). O advento do porto em São Mateus vai fazer essa completa integração, redefinindo a logística brasileira, com margem de ir ainda além.

A seguir, fotos dos eventos promovidos pelos mineiros nesta segunda-feira no Vale do Aço, envolvendo prefeitos, vereadores, deputados estaduais e federais, líderes empresariais da indústria e do comércio, além de representantes de organizações sindicais e da Federação das Indústrias de Minas Gerais. 

Flaviano Mirco Gaggiato, presidente da FIEMG Vale do Aço, promoveu um almoço seguido de reunião com expressiva representatividade, com a participação de representantes da Cenibra, Usiminas e Aperam, grandes indústrias da região; o prefeito de Ipatinga, Gustavo Nunes (PSL), foi tomar café da manhã com o dirigente da Petrocity no hotel, onde ele recebeu também uma moção honrosa da Câmara Municipal; o prefeito de Coronel Fabriciano, Marcos Vinicios da Silva Bizarro (PSDB), mobilizou lideranças para brigar pela UTAC em seu município;  os deputados Ercílio Coelho (federal), Rosângela Reis e Celinho do Sintrocel (estaduais), também marcaram presença, e Tito Torres mandou seu assessor Clésio Gonçalves; e a imprensa se mobilizou...

Um entusiasmo contagiante. 

Acorda, Espírito Santo. Onde estão nossos deputados federais? Nossos senadores? Nossos deputados estaduais?... PEGUEM A VISÃO.

 José Caldas da Costa, jornalista e geógrafo














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